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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A definição do relacionamento ...

Há dias estava no café com um amigo, que comentava comigo que conhecia um casal que só se dava bem a nível sexual. Uma situação que o confundia e incomodava, visto que, para ele, não é somente nisso que um relacionamento deve assentar.
Eu respondi-lhe que "se eles se dão bem, porque não?" ... acho que cada um deve ter uma relação à medida dos seus desejos, independentemente disso ser, ou não, bem "aceite" socialmente.
E dei-lhe como exemplo uma reportagem intrigante que vi há uns tempos num canal televisivo, que falava sobre a chegada do "poliamor" a Portugal, um conceito que já existe nos Estados Unidos há vinte anos e «defende a possibilidade prática e sustentável de se estar envolvido de modo responsável em relações íntimas, profundas e eventualmente duradouras com vários parceiros simultaneamente» (wikipédia) ... e com o conhecimento de todos.
Apesar de a conversa ter ficado um pouco por ali, vim para casa a remoer no assunto e a questionar até que ponto é que poderemos definir um relacionamento como melhor ou pior, certo ou errado, com esta nova forma de estar na vida. Se as pessoas se entendem e estão felizes, não será isso o mais importante?
Mas o que me deixou algo inquieta, porque balança com todas as minhas certezas, foi a resposta à pergunta: será possível amar duas ou mais pessoas ao mesmo tempo? (é que a definição é "poliamor" e não "polipaixão") ...
E independentemente disso, será este o futuro dos relacionamentos? Já escrevi sobre as relações "fast-food", mas estarão as pessoas tão descrentes no Amor para a vida toda, que preferem reparti-lo por várias "hipóteses" de caras-metades?
E as dúvidas continuaram a borbulhar, emergentes, na minha mente ... se actualmente vemos (na minha perspectiva, pelo menos) que as pessoas são cada vez mais exigentes e lutam menos afincadamente pelo sucesso de uma relação - quando esta não lhes parece dar o que esperam - como conseguirão gerir duas ou mais?
Ou se, por outro lado, tendo mais do que um amante, a pressão das expectativas acaba por se diluir e o namoro ganha nova energia com isso?
... ai ai 
O mais curioso é que há uma série que passa num dos canais da FOX que se chama "Big Love" e que segue a vida de um homem que vive com as suas três mulheres e respectivos filhos, debaixo do mesmo tecto, em harmonia, respeito e são felizes! 
Vejo-a de vez em quando, para tentar entender a lógica da poligamia, mas sem grandes resultados, confesso, porque eu ... mulher ... ciumenta quanto baste e muito sensível, sei que o meu coração se partiria em mil bocados se visse aquele que amo beijar outra mulher com a mesma intensidade e paixão com que me beija a mim, então engravidá-la e vivermos juntos?? Não me parece! (lá se vai a tolerância, hehehe ...)
Mas fico confusa ... será que o ocidental rejeitou a poligamia para uma melhor e mais eficiente organização/gestão social e ela ainda reside em nós, pulsante e a aguardar que as mentalidades mudem? 
Bem ... a verdade é que não consigo ser imparcial nesta questão, porque sou uma mulher de muitas paixões mas de um só Amor ... aquele a quem me dedico de corpo e alma, por quem suspiro, por quem o coração bate descompassadamente, aquele que me queima a pele ao toque e que me faz suster a respiração por breves segundos quando se aproxima para um tocar de lábios apaixonado ... e não sou capaz de sentir isso por duas pessoas ao mesmo tempo ...
Posso parecer antiquada face a esta nova forma de pensar os relacionamentos, mas prefiro viver plenamente o mais belo sentimento do mundo com um só homem, com todos os seus defeitos e falhas, do que esbater-me em "poliamores" e nunca ser inteira para nenhum ...

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

"Adeus", por Eugénio de Andrade

Sempre quis escrever sobre o sentimento de desprendimento e indiferença que (infelizmente) se cola a nós no fim de um relacionamento ... como olhamos de forma tão diferente para a nossa paixão, depois de o amor acabar ... faltavam-se-me as palavras, Eugénio de Andrade encontrou-as por mim ... 


 Adeus

«Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.»


(Eugénio de Andrade)

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O prazo do sentimento (e sim, ainda continuo lamechas)

Vi hoje um filme ternurento, "Cartas para Julieta" e que me deixou lamechas quando saí do cinema.
Sem querer estragar a história, o filme fala sobre uma senhora que procura um amor perdido no tempo e que já não vê há cinquenta anos.
Independentemente de como acaba esta comédia romântica, gostei muito da ideia que pretende transmitir ... a de que um amor verdadeiro resiste ao passar da areia na ampulheta e às contrariedades e que, quando gostamos realmente de alguém, nunca é tarde demais para viver esse sentimento ...
Achei uma mensagem realmente positiva, principalmente nos dias que hoje correm e quando me faz tanta confusão o estado a que o ser humano chegou ... fechamos o coração, desconfiando de tudo e todos, sempre de pé atrás para nos protegermos da dor e acabando muitas vezes por não existir em pleno, com medo de somar mais uma decepção.
E eu, que voltei recentemente a sofrer mais uma desilusão, posso afirmar sem sombra de dúvida que continuo esperançada no mais belo sentimento do mundo. Tive a sorte de encontrar alguém que me voltou a fazer confiar na decência e hombridade masculinas e, apesar de não ter resultado, fui feliz enquanto durou.
Porque para mim, a vida é isso mesmo ... lembrarmo-nos com carinho dos melhores momentos, aprendendo com os momentos menos bons e crescendo pelo caminho.
Não estou rancorosa, nem magoada, estou triste sim, mas com a esperança renovada nos relacionamentos e a expectativa de que vai correr tudo bem para a próxima ...
O filme "Cartas para Julieta" mostra isso também, que viver não é fácil, mas que vale sempre a pena arriscar amar, entregarmo-nos sem reservas, dar tudo sem esperar nada em troca e ver o que acontece ... seguir o coração e simplesmente ... sentir ... 
Temos de continuar a acreditar no final feliz, porque um dia ele acaba por chegar e temos de o abraçar sem reticências ...
E como me disse há tempos uma grande amiga sobre o que deve ser o amor:  «sim, tem que ser como nos filmes!» ... em que nos apetece cantar e dançar na rua, querer abraçar toda a gente e, pelo meio, suspirar de 5 em 5 minutos com um sorriso parvo na cara ...
Um sentimento em que o dia fica melhor assim que o vemos, que faz partir o nosso coração em mil pedacinhos quando ele está triste, mas que rejubila quando ele nos manda uma mensagem a dizer «gosto de ti» ...
Porque se não for assim, não é o amor que eu quero e não serve para mim ... hei-de esperar o tempo que for necessário e mais algum ... e se ficar para tia, hei-de ser feliz na mesma ... porque já me sinto inteira sozinha, um amor só me tornará ainda mais resplandecente :)  

sexta-feira, 30 de julho de 2010

O peso da solidão ...

Este é um blog que respira através da minha inspiração, que tem andado algo cansada ... mas depois de uma conversa de café, voltei a sentir a urgência de escrever sobre a forma como a solidão nos pode afectar e condicionar a existência.
Isso porque há dias conversava com uma amiga sobre uma conhecida nossa ... uma senhora espectacular e que sei estar com alguém que não lhe acelera o coração, nem a trata particularmente bem, mas que a dita senhora não consegue deixar. 
Ele dá-lhe migalhas de afecto, não a faz rir até ficar sem fôlego e raras vezes a defende perante quem realmente importa. E ela sabe disso e sujeita-se, contentando-se com o pouco que recebe ... e vai dizendo aos outros (e tentando convencer-se a si própria) que ele lhe faz companhia, até lhe dá a mão quando andam na rua e que assim sempre pode sossegar a mãe, porque "agora não acaba os dias solteira".
E fico triste por pensar que esta senhora, um ser humano decente e de quem gosto muito, tem consciência que esta não era a relação que desejaria, mas uma aceitável ... e vai vivendo um dia de cada vez, acreditando que os sentimentos vão mudar e crescer ... e quem sabe, um dia, até pode chegar a amá-lo ...  e ele a ela?
Mas enquanto esse despertar do coração não chega, ela está acomodada num relacionamento opaco, porque a alternativa é muito pior ... é continuar só ... e estar carente de afecto, de um carinho, de um toque mais íntimo ... e chegar todos os dias a uma casa vazia ... de voz e de calor humano ... e noite após noite, dormir sozinha, numa cama em que é o cansaço quem a embala e não o abraço de alguém especial ...
Perdoem-me pelo desalento, mas conheço tantas pessoas assim, que se tornam "realistas" e desistem de encontrar uma relação que as faça rebentar de alegria, permitindo-se amar perdidamente ("e dizê-lo cantando a toda a gente"), porque deixaram de acreditar na magia do romance ... 
Na minha forma de pensar, entendo que quando somos novos, a frescura do espírito renova-nos a força para voltar a apostar no mais belo sentimento do mundo ... mas à medida que os anos vão passando e as rugas nos vão marcando a face, a esperança começa a esfumar-se, levando com ela todas as expectativas e sonhos de juventude ... e quero (sinceramente) estar enganada, mas é isto que vejo e ouço das pessoas que me rodeiam ...
Por outro lado - e enquanto romântica confessa - custa-me reconhecer que o amor não acontece por magia, por mais que queiramos. E que a realidade acaba por não ser tão "fofinha" como nos filmes, em que há sempre o "happy end" ... 
Ainda que por vezes aconteça o inesperado a alguns sortudos, que vivem autênticas histórias de amor (felizmente, conheço alguns casos!), cada vez mais acredito que a felicidade é uma conquista ... não cai do céu ... e que muitas vezes temos de ser nós a dar o primeiro passo, se calhar um passo maior do que a nossa perna, mas arriscar um "leap of faith" ... porque a felicidade não pode ser medida pelos medos, mas pela esperança numa realidade melhor ... 
E preciso mesmo, mesmo de acreditar que, apesar da solidão ser madrasta para muitos, há quem consiga conviver com ela e prefira estar só do que com alguém que não a deixe com borboletas no estômago! 
E falo por mim, eu preciso de quem me faça sorrir o coração e continue a gostar de mim, mesmo depois de ouvir as minhas gargalhadas sonoras no cinema ... porque é assim que deve ser :)

terça-feira, 6 de abril de 2010

A Ilusão do Ser ...

Não me querendo armar em socióloga nem em psicóloga, tenho andado a reflectir sobre o impacto que a forma como nos vemos tem na nossa existência e como isso determina a percepção que temos do mundo e, por conseguinte, a nossa relação com ele, para o melhor e para o pior ... seja nos relacionamentos amorosos, amizades ou trabalho.
E digo isto porque me sinto triste e impotente com o comportamento de certas pessoas que conheço e que sei serem fantásticas, lindas por dentro e por fora e que simplesmente não conseguem reconhecer o seu potencial e valor, pela forma deturpada e pessimista como se vêem.
É a tão conhecida e falada falta de auto-estima, não tão grave como a anorexia ou a dismorfofobia (um transtorno em que há um sentimento crónico de não aceitação da imagem corporal), mas que provoca grandes transtornos em pessoas que não gostam tanto de si como deviam. 
Um mal-estar com elas próprias que poderá ser resultado de uma infância difícil, pais controladores e exigentes demais, amigos e familiares invejosos e mesquinhos, ou até traumas difíceis de ultrapassar, num acumular de más experiências que as tornam em adultos inseguros, que acham que têm pouco valor e não merecem ser felizes, contentando-se a maior parte das vezes com migalhas de carinho e reconhecimento.
E quando eu encontro seres humanos maravilhosos, repletos de qualidades, mas a sofrerem desta maleita e com o ego completamente espezinhado, só me apetece abaná-los repetidamente, até que eles acordem desta ilusão e se vejam como eu os vejo, no espelho certo e não naquele que têm em casa e em que vêem um reflexo cinzento e sem brilho.
E revolta-me não conseguir que tenham este discernimento e não se vejam como as pessoas espectaculares que são, enquanto há outras que têm o ego inflacionado e andam por aí com o nariz empinado demais e como se tivessem o rei na barriga, a julgarem-se melhores do que os outros ... e pior, tratando muitas vezes de forma jocosa estas almas boas. 
Sei que o mundo não é justo e que cada um tem de lutar com as armas que tem, não vou agora ser hipócrita, mas faz-me confusão que certas pessoas não lutem pela felicidade que merecem pela ideia que fazem delas próprias ... e andem por aí perdidas, cabisbaixas ... anónimas ...
Seres iludidos, acordem! Somos todos diferentes, seja pela cor da pele, estatura ou peso e é verdade, nem todos podemos ser modelos, mas TODOS temos um coração vivo e vibrante, que pulsa ansioso por afecto e uma vida que merece ser vivida no seu pleno.
E privarmo-nos do milagre que é viver por causa de inseguranças é inadmissível para mim!! Daqui a uns anos nem nos vamos lembrar de metade (com as devidas excepções para os casos mais graves) ...
Muitas vezes, somos os nossos piores críticos, mas o que são uns pneuzinhos a mais quando temos uma simpatia vibrante, o que são uns centímetros a menos (estou a pensar na altura, LOL) quando ajudamos o próximo sem esperar nada em troca ...
Em vez de olharmos para os nossos defeitos e falhas (todos os temos!), orgulhemo-nos das qualidades que as pessoas que gostam de nós adoram ... a nossa generosidade, boa disposição, largo sorriso e amizade.   
Vamos aproveitar a vida, pormo-nos mais vezes em 1º lugar e amar a pele que vestimos!!
E se se sentirem em baixo, venham falar comigo ou desabafem à vontade neste blog, eu tenho um vocabulário extensíssimo em elogios (sinceros, sempre!) e já diz a publicidade «se eu gostar de mim, quem não gostará?»

quarta-feira, 17 de março de 2010

O elogio à ignorância ...

Tenho um amigo que acredita que a felicidade é pura ilusão e que as pessoas realistas são pessimistas por Natureza. Essa lógica fez-me lembrar o heterónimo de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro, que dizia que "pensar é estar doente dos olhos" ...
Lembro-me de em criança - antes de "aprender" a pensar - sentir essa felicidade plena e viver numa ignorância tranquila, em que eu sabia que qualquer problema que surgisse era prontamente resolvido pelos meus pais ... para mim eles não tinham defeitos, eram super-heróis :)
E podem rir, mas eu cresci a pensar que todas as pessoas eram assim: bondosas, sempre prontas a ajudar e que se magoassem alguém seria por descuido, nunca de propósito ... a minha enorme ingenuidade de então fazia-me vislumbrar sempre o melhor dos outros e "cegar" a qualquer acto mal intencionado.
À medida que fui crescendo, apercebi-me de que o mundo não é cor de rosa ... uma verdade que me atingiu da forma mais dolorosa, a tão famosa perda da inocência, a fase em que percebemos que temos de começar a tomar conta de nós e que as pessoas que idolatramos também falham ... 
Tudo isto para dizer que nestes últimos anos e depois desse despertar abrupto, o que me estava a custar a entender era o porquê de certas pessoas fecharem o coração e tornarem-se desconfiadas ... achava-as tontas e descrentes no mais belo sentimento do mundo ... e sempre disse a mim própria que isso nunca me ia acontecer ...
Disse? Dizia ... porque quanto mais me decepciono, mais tenho saudades dos meus tempos de menina, em que acreditava que tudo se resolvia a conversar e que as pessoas eram sinceras no que diziam ... agora só me dá vontade de rir e chorar ao mesmo tempo ...
Não me tornei repentinamente pessimista, mas tenho noção de que era bem mais feliz quando via o mundo pelos tais óculos com lentes da cor do arco-íris e a noção de  "engano" não existia no meu dicionário ...
No fundo, sei que a maior parte das vezes me iludo conscientemente, mas só porque a alternativa me é insuportável: constatar que há quem magoe outros propositadamente e até com prazer, que é maledicente de forma gratuita e não se importa com o seu semelhante ... sinto um tal asco e mal-estar que a maior parte das vezes prefiro fingir que não vi, não percebi ou nem ouvi ...
Não defendo com isto o "Síndrome de Peter Pan", a recusa em crescer, nem nada que se pareça, mas prefiro ser uma pessoa feliz na minha "simulada" ignorância do que esvaziar-me de ilusões e tornar-me num corpo vazio de expectativas e esperanças ... 
Por mais irrealista e quase tolo que possa parecer, quero continuar a acreditar no melhor das pessoas, a dar segundas e terceiras oportunidades (mesmo que depois me desiluda), a achar que os empurrões e pisadelas não eram intencionais e que há quem ainda fale verdade quando diz "amo-te" ... preciso disso para me manter sã, lúcida e para que a criança que (ainda) idolatra os pais nunca desapareça ... 
E porque este é um elogio à ignorância, termino com um poema que dispensa apresentações:  
  
O Mundo não se Fez para Pensarmos Nele

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás ...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem ...

Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras ...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo ...

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo ...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos ...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar ...

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema II"

domingo, 14 de março de 2010

As expectativas da Felicidade ...

Há dias uma grande amiga colocou-me uma boa questão ... se será preferível estar com alguém por quem não estamos loucamente apaixonadas, mas que nos trata com afecto, carinho e respeito ... ou procurar o amor romântico, aventureiro e imprevisível como é retratado nos livros e filmes e que, na vida real, acaba por estar representado num "bad boy" que nem sempre nos trata como merecemos ... 
Hesitei na resposta ... se por um lado acho que todos merecemos o "big L" e que o amor tem de ser vivido na sua plenitude - pois não será justo estar com alguém que me ame verdadeiramente e não ser recíproco (e vice-versa) - sei também que às vezes idealizamos este sentimento de uma forma algo irrealista (eu culpo a literatura e o cinema!) ... 
Penso mesmo que a ideia do que o amor deve ser é muitas vezes sobrevalorizada e acabamos por desperdiçar a oportunidade de sermos felizes com alguém porque à partida não fazia "o nosso género". 
Se me perguntassem há algum tempo a mesma questão, não haveria dilema e a minha resposta seria pronta e firme: quero o homem da minha "lista da mercearia"!! 
Mas agora que vivi um pouco mais e vou somando desilusões, vejo caírem por terra muitas das minhas certezas e convicções no que toca ao assunto Amor. 
Ai ai ... espanta-me constatar a rapidez com que tenho mudado a minha forma de olhar para o mais belo sentimento do mundo, cada vez menos romântica e ingénua ... pensava que não seria nada complicado encontrar a felicidade ao lado de alguém que me completasse e agora sinto que me estou a tornar numa pessoa descrente e mais desconfiada ... e temo nunca mais voltar a ser como era ...
Calma, dirão os meus amigos ... um dia de cada vez! Assim sendo, a minha resposta à  pergunta sobre as expectativas da felicidade é que neste momento prefiro estar só a viver um sentimento mais morno ... ainda não estou disposta a prescindir da esperança em encontrar alguém especial. 
Por outro lado,  também estou mais realista e começo a compreender que haja quem privilegie a estabilidade e segurança num relacionamento em detrimento de uma paixão arrebatadora ... 
E infelizmente, também conheço quem não aguente estar só e se contente com "gostar" em vez de "amar" ... porque ao fim de algum tempo a solidão mói e dói de tal forma que faz mirrar o coração, até mergulharmos numa tristeza dolorosa que nenhuma amizade ou familiar consegue atenuar ... 
Apesar de estar rodeada por pessoas que gostam de mim e me valorizam pelo que sou, ainda continuo a achar que estar apaixonada é revigorante a todos os níveis e que nada consegue substituir essa sensação ... uma chatice, digo eu!!
Pois é, acabadas as certezas, chego à conclusão de que independentemente das opções de cada um, há que viver um dia de cada vez, com um sorriso nos lábios e esperança na alma e ver o que acontece ... porque o melhor da vida é que ela não cessa de nos surpreender :)

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Ai, a minha vida ...

O Dia de São Valentim deixou-me a reflectir na forma como actualmente se vivem as relações e a temer o pior num futuro próximo ... 
Por exemplo, no que toca à traição, tenho plena consciência de que sempre foi um tema recorrente e se há umas gerações as mulheres tinham de se sujeitar às "escapadinhas" dos maridos, por não trabalharem e não terem forma de se sustentar, também sei que havia senhoras que procuravam um "ombro amigo" quando os maridos eram ausentes e não lhes davam atenção. Além dos factores económicos, as traições eram "abafadas" pelo facto dos divórcios serem mal vistos pela sociedade de então.
Não quero com isto desculpar ninguém e, fossem quais fossem as razões, reconheço que a traição não é exclusiva do sexo masculino, mas confesso ouvir muitos mais casos de traidores do que de traidoras (desculpem lá, homens ...)
Mas o que mais me inquieta na traição é a despreocupação e ligeireza de quem a pratica depois de ter assumido um compromisso, seja o namoro ou o casamento (para mim, a responsabilidade é idêntica).
Revolta-me e repugna-me mesmo saber de indivíduos que, perante a sociedade, são os "companheiros perfeitos" e apregoam aos "sete ventos" o quanto amam a pessoa com quem escolheram estar e depois, num momento de fraqueza, vulnerabilidade ou cansaço da monotonia, têm comportamentos inapropriados e que desrespeitam claramente a pessoa com quem estão.
Chamem-me antiquada, ingénua até, mas eu acredito na fidelidade plena quando escolhemos partilhar a vida  com alguém e vou até ao ponto de afirmar que quem não se sente capaz disso, não deve assumir um casamento "até que a morte os separe". Há coisas que não se fazem de ânimo leve!
Preciso de acreditar que num relacionamento, por mais longo que seja, o ego e a vontade de "quero ver se ainda não perdi o jeito e continuo atraente" não se deveria sobrepor à mágoa, tristeza e à desconfiança que as traições acarretam ... 
Não entendo como é que o risco, a emoção e a adrenalina de viver um "affair" possa ser mais importante do que manter um sentimento há muito acarinhado ... e muito menos concordo que haja "deslizes" que salvam um casamento (até podem salvar, mas só se nunca forem descobertos, hehehe ...)
Aparte a gracinha, recuso-me terminantemente a aceitar que a traição é um mal menor e que é melhor fechar os olhos e perdoar, do que acabar com um casamento de décadas e ficar sozinha/o ...
... (mas sei o quanto custa a solidão) ...
O pior é que quando leio os meus textos iniciais, percebo que estou a ficar menos romântica e confiante na esperança de encontrar o homem certo. Não me considero muito exigente, porque acho que não é pedir demais alguém que me ame e respeite e que goste de me tratar bem e mimar ... 
Infelizmente, tenho encontrado homens que só se querem divertir "sem compromisso", o que para mim é mais uma desculpa para justificar a promiscuidade ...
Sei que há homens decentes, mas os que conheço ou são família (e há a chatice da consanguinidade), ou estão comprometidos ... ou são homossexuais (o que é realmente uma pena ... para mim claro!) :P
Sentir-me sozinha deixou de ser novidade e acho que me vou habituando à ideia de que o homem que procuro só existe na minha imaginação, mas caramba, sou assim tão difícil de satisfazer que terei de me resignar a estar com alguém que me liga duas vezes por semana e saltar de contente por ele se ter lembrado de mim?
Esta sociedade de relações "fast-food" estará manchada por uma mentalidade tão livre e despudorada que querer um relacionamento (e ainda para mais que ele me seja fiel) é assim tão absurdo e descabido?
Nesta vida apressada e em que conhecer (e descartar) pessoas é tão fácil como escolher produtos no supermercado, estará o Amor no fim da nossa lista de prioridades?
Quando eu era criança, achava que os adultos complicavam coisas tão simples - e ainda continuo a achar o mesmo - mas não vou mudar a minha mentalidade algo adolescente ... apesar das desilusões, vou continuar fiel a mim própria e a preferir estar sozinha do que aceitar um homem que não me respeita, achando que ele vai mudar um dia ... ou um "menino da mamã" que não me defenda perante as provocações da matriarca e, definitivamente não vou ficar ao lado de quem não é capaz de dar o braço a torcer e mostrar que gosta de mim, mesmo quando eu não tenho razão ... 
É claro que gostava de ter alguém a meu lado, mas não me vou sujeitar novamente a ser relegada para segundo plano por quem não me sabe valorizar ... mereço ocupar o 1º lugar  no coração de alguém e permanecer lá, como uma tatuagem :) 
Ele anda por aí ...

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Um Sopro de Esperança ...

Vi hoje o extraordinário filme "Up in the Air" e AMEI!! É o meu tipo de filmes favorito, que tal como "The Curious Case of Benjamin Button" e "Revolutionary Road", me deixam com uma ligeira inquietação, um desconforto miudinho e um formigueiro no cérebro, que me obrigam a reflectir e a repensar a forma como levo a vida ...
Normalmente, chego sempre à mesma conclusão ... ADORO a minha vida e sou mesmo uma sortuda por tudo o que tenho, daí acreditar que tenha de continuar a defender a minha filosofia de vida ... positiva, alegre e mostrando a quem me rodeia de que a felicidade está ao alcance de todos, se a conseguirmos ver com olhos de ver ...

Dou-vos o exemplo deste filme, com a magistral actuação do George Clooney, que interpreta um homem com uma vida algo insípida e vazia e que, tendo uma profissão que o obriga a viajar grande parte do ano de avião, tem como extravagância querer acumular um número absurdo de milhas de passageiro frequente ...
Um solitário sem amigos e que raramente vê a família, acreditando que os laços que criamos com as pessoas são objectos pesados e dispensáveis que carregamos na vida, que compara a uma mochila.
Uma forma de viver e de pensar desprendida e sem compromissos e com a qual este personagem até estava satisfeito, até ao dia em que conhece uma mulher, por quem acaba por se apaixonar e que revoluciona o seu mundo ... a partir daí, todas as certezas se desvanecem e a vida que achava organizada, perde sentido ... fica vazia ...
E o filme coloca uma pergunta, que achei deliciosa: "nos teus momentos e memórias mais felizes, estavas sozinho ou acompanhado?" ... a maior parte de nós responderia "acompanhada/o", porque se pensarmos bem, as coisas boas que nos acontecem assumem a sua plenitude quando as partilhamos com quem amamos, certo?
"A vida é melhor com companhia, toda a gente precisa de um co-piloto", dizia o personagem do Clooney a dada altura ... e não é verdade que quando tudo à nossa volta se desmorona (seja por uma doença ou problemas no emprego) é a família e amigos que nos recompõem e dão força para enfrentar as contrariedades?
Pois é ... filmes como este só vêm confirmar a minha teoria de que devemos elogiar mais e criticar menos, conservar uma certa ingenuidade, sem sermos tontos, acreditar SEMPRE na bondade humana e claro, rir muuuuuito!!
Posso parecer um disco rachado, mas nunca me vou cansar de anunciar ao mundo que a felicidade está em apreciar as nossas vitórias, por mais pequenas que sejam e desvalorizarmos as coisas menos boas do dia-a-dia ... faço por afastar sentimentos negativos como a mágoa, raiva e desprezo .... acho que a vida é demasiado curta para a gastarmos com lamentos que só nos desgastam e não nos tornam pessoas melhores ...
Sei quem são e onde estão as minhas prioridades e é por saber a importância que a família e amigos têm na minha vida, que mal consigo ouvir os relatos da catástrofe no Haiti.
Ainda hoje uma amiga me alertou para uma reportagem na televisão sobre um homem que tinha perdido tudo, mulher e filhos ... nem precisei de olhar para o ecrã para os olhos ficarem imediatamente marejados de lágrimas e o coração apertado ao tentar imaginar o sofrimento daquele ser humano ...
Por isso e porque a maior parte de nós se esquece da sorte que tem, terminava este texto com um apelo à solidariedade de todos quanto me lêem ... vamos ajudar quem tanto precisa ... de um estender de mão, de um sopro de esperança ...
Deixo aqui vão algumas sugestões, consideradas pela DECO como organizações de confiança:


- AMI - Missão de Emergência no Haiti: www.ami.org.pt/default.asp?id=p1p7p28p827&l=1
A Assistência Médica Internacional (AMI) lançou uma campanha de ajuda ao Haiti apelando à sociedade civil que participe com donativos. Encontra-se aberta uma conta de emergência Haiti com o NIB: 0007 001 500 400 000 00672 ou Multibanco: Entidade: 20909 Referência: 909 909 909.


- Cáritas Portuguesa: www.caritas.pt/noticia.asp?caritaid=1&noticiaid=2927


- Cruz Vermelha Portuguesa: www.cruzvermelha.pt/cvp_t/
As formas de donativo para o Fundo de Emergência da Cruz Vermelha Portuguesa – apelo vítimas do Haiti, são as seguintes:
1. Nas caixas multibanco ou por netbanking, optando por “pagamento de serviços” e marcando entidade 20999 e referência 999 999 999.
2. Nas caixas multibanco, optando por “Transferências” e “Ser Solidário” (campanha SIBS). Seleccionar opção “Factura” para obter logo o comprovativo de donativo para efeitos fiscais.

- Oikos - Angariação de Fundos "Emergência no Haiti": www.oikos.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=360&Itemid=70


Obrigada!